O medo

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
Drummond

mariagabrielle

parabenizo o google, ele fornece ferramentas de mais......

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CONCEITOS EM FILOSOFIA

A filosofia e a criação de conceitos em Deleuze e Guattari Para Deleuze e Guattari, o pensamento filosófico realiza-se através da inten-sa criação de conceitos. Essa tarefa, no entanto, já foi reconhecida pela filosofia. O que distingue o pensamento desses autores com respeito ao trabalho filosófico, é que para os mesmos, a criação de conceitos deve assumir o lugar a imanência e não da transcendência. Assim, supõe a criação de um plano de imanência pré-filosófico. O plano é caracterizado como pré-filosófico não no sentido de ser anterior à filosofia, mas por ser a condição, o elemento interno necessário para que a filosofia exista. “A filosofia é, ao mesmo tempo, criação de conceito e instauração do plano. O conceito é o começo da filosofa, mas o plano é sua instauração” (DELEUZE e GUATTARI, 1992, p. 58). O plano é a base e o horizonte do conceito, o que fornece fundamento e norteia a criação conceitual. Por isso, conceito e plano tornam-se inseparáveis e imbricados e sem nenhuma relação hierárquica entre eles. O conceito não funciona sem o plano em que foi criado. Há uma complementaridade entre conceito e plano, que forma a estrutura do sistema filosófico. A imanência do conceito impede as representações mentais, e a busca de referenciais fora do plano. Assim, os conceitos remetem a uma compreensão não conceitual, intuitiva, que varia em função do plano foi instaurado. O plano de imanência estabelece também uma relação entre a filosofia e o não filosofo, uma vez que é necessário que haja um diálogo entre a filosofia e os leigos. Como não se encerra em representações mentais, o conceito não paralisa o movimento do pensamento. Ele é aberto e dinâmico, tem como característica intrín-seca o próprio devir. Assim, o conceito provém de uma experiência de pensamento e leva a novas experiências de pensamento. Portanto, os conceitos não surgem do nada, se caracterizam também por pos-suir uma história, isto é trazem consigo elementos de outros conceitos. Os conceitos alimentam-se de diversas fontes, como a filosofia, ciência e arte. Um conceito se origina de outro conceito, que por sua vez, também teve origem em outro conceito, e assim sucessivamente, num movimento que se estende ao infinito. Por isso, não há conceito simples, o conceito remete sempre a uma multiplicidade de conceitos, de modo que é impossível construir uma linha exata de demarcação entre um conceito e outro. Cada conceito remete a outros conceitos, não somente em sua história, mas em seu devir ou suas conexões presentes. Cada conceito tem compo-nentes que podem ser, por sua vez, tomados como conceitos [...] Os con-ceitos vão pois ao infinito e, sendo criados, não são jamais criados do na-da. (DELEUZE e GUATTARI, 1992, p. 41) No, entanto, é tarefa do filósofo, em sua criação, recortar o conceito, atribuir-lhe novas nuanças. O conceito também possui singularidade, porque jamais é o mesmo, uma vez que se remete a um agregado de conceitos. Embora o conceito reporte-se a uma multiplicidade de conceitos, possui uma estrutura e organização e, no entanto, não perde o caráter de um todo composto por fragmentos. Como o conceito é um ato de criação, ressalta-se a capacidade criadora da filosofia. Aqui se destaca uma característica do pensamento de Deleuze e Guattari, que é o construtivismo, que diz respeito ao ato de construção-criação. O filósofo deve ser criador e não reflexivo. Assim, também, se compreende a especificidade da filosofia. A filosofia não é contemplação, porque a contemplação não é criativa, não é comunicação, porque a mesma visa ao consenso. Também não é reflexão, porque não é uma função específica da filosofia, qualquer um pode refletir. A criação de conceitos é que confere a especificidade da filosofia: “a contemplação, a reflexão, a comunicação não são disciplinas, mas máquinas de constituir Universais em todas as disciplinas.” (DELEUZE e GUATTARI, 1992, p. 15). O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos [...] Criar conceitos sempre novos, é o objeto da filosofa. É porque o conceito deve ser criado que ele remete ao filósofo como àquele que o tem em potência, ou que tem sua potência e sua competência [...] Que valeria um filósofo do qual se pudesse dizer: ele não criou um conceito, ele não criou seus conceitos? (DELEUZE e GUATTARI, 1992, p. 13-14). Os conceitos são auto-referentes, se reportam a eles mesmos, representam uma forma própria de ver o mundo e os acontecimentos. Nessa perspectiva, a pró-pria filosofia torna-se auto-referente. Deleuze e Guattari, distintamente da tradição, para a qual o conceito é sem-pre universal, sublinham o caráter particular do conceito, à medida que o mesmo remete-se sempre ao acontecimento, que é caracterizado por sua singularidade. Portanto, cada conceito, diz respeito a um problema, são criados em função de um problema, que é o que confere sentido e razão de ser para um conceito. De acordo com os autores, o “primeiro princípio da filosofia é que os universais não explicam nada, eles próprios é que devem ser explicados” (DELEUZE e GUATTARI, 1992, p. 15). A criação de conceitos nos remete a uma lógica do sentido, contrapondo-se a idéia e categorias prontas, definidas. Os acontecimentos aos quais se remetem os conceitos são vistos em sua particularidade e imprevisibilidade. Portanto, o conceito não é uma representação mental, encerrada em si mes-ma, é um instrumento que faz pensar, que impulsiona o pensamento a partir de um dado problema. A filosofia de Deleuze e Guattari convida a observar continuamente o mundo, suas nuanças, variedades e detalhes. Para Deleuze e Guattari, a filosofia deve se desvencilhar das opiniões simplis-tas, das generalizações que aprisionam os indivíduos e saber conviver com a multiplicidades de possibilidades que caracteriza o mundo. A criação de conceitos valoriza os acontecimentos, sua dinâmica e imprevisibilidade. O pensamento filosófico conduz, assim, a se aventurar, a correr certos riscos. Estabelece sempre uma relação entre o conhecido e desconhecido, reporta-se aos conceitos e à imprevisibilidade do mundo das coisas e dos acontecimentos.
JOÃO FILHO- PÓS GRADUADO EM METODOLOGIAS DO ENS. DE FILOSOFIA E GRADUADO EM HISTÓRIA.
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELEUZE, G e GUATTARI, F. O que é a filosofia. São Paulo: Ed. 34, 1992 FLORIANO, C. Deleuze e a Educação Disponível em: www.arq.ufsc.br/esteticadaarquitetura. Acesso em: 15 jan 2010. GELAMO, R. P. A imanência como “lugar” do ensino de filosofia. Educ. Pesqui. vol.34 no.1 São Paulo Jan./Abr. 2008 Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 12 jan 2010