Solano, vento forte da África" De todos os escritores negros, ligados à coletividade negra brasileira, o que deixou presença mais forte foi Solano Trindade. Foi o primeiro a escrever, com especificidade, para negros, naquele tempo. Pagou o preço disso, e como! Solano Trindade era poeta, pintor, teatrólogo, ator e folclorista. Nasceu no dia 24 de julho de 1908, no bairro de São José, no Recife, capital de Pernambuco. Era filho de Manuel Abílio, mestiço, sapateiro, e da quituteira Merença (Emerenciana). Estudou até completar um ano de desenho no Liceu de Artes e Ofício. A partir de então, começa a escrever. Solano Trindade foi o poeta da resistência negra por excelência. - Eita negro! quem foi que disse que a gente não é gente? quem foi esse demente, se tem olhos não vê... - Que foi que fizeste mano pra tanto falar assim? - Plantei os canaviais do nordeste - E tu, mano, o que fizeste? Eu plantei algodão nos campos do sul pros homens de sangue azul que pagavam o meu trabalho com surra de cipó-pau. - Basta, mano, pra eu não chorar, E tu, Ana, Conta-me tua vida, Na senzala, no terreiro - Eu... cantei embolada, pra sinhá dormir, fiz tranças nela, pra sinhá sair, Linda Negra Naquela noite ficou o teu olhar branco vagando no escuro entre ternura e medo teus olhos grandes dançavam como loucos na música do silêncio Eu era animal e poeta a procurar em ti o que perdi em outra Linda negra. Solano Trindade, "Cantares ao Meu Povo" Fonte: O Negro Escrito, de Oswaldo de Camargo Sua "carreira" como militante inicia-se, de fato, a partir de 1930, quando começa a compor poemas afro-brasileiros e, já integrado nesta corrente, participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro, no Recife e Salvador. Em 1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-brasileiro, que tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros. Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte. Depois chega ao Rio Grande do Sul, fixando-se por um tempo em Pelotas, onde funda com o poeta Balduíno de Oliveira um grupo de arte popular. Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro do povo, o que não se concretizou devido à enchente de 1941, que carregou todo o material. Voltou então para Recife, indo logo depois para o Rio, onde no "Café Vermelhinho", detém-se a discutir e a conversar com jovens poetas e intelectuais, artistas de teatro, políticos e jornalistas. Ali fez sucesso. Em 1944, edita o livro "Poemas de uma vida simples", onde se encontra o seu declamadíssimo "Trem sujo da Leopoldina". Em 1945 funda o Comitê Democrático Afro-brasileirom, com Raimundo Souza Dantas, Aladir Custódio e Corsino de Brito. Em 1954 está em São Paulo, criando na cidade de Embu, um pólo de cultura e tradições afro-americanas. Em São Paulo também funda o Teatro Popular Brasileiro – TPB, onde desenvolveu uma intensa atividade cultural voltada para o folclore e para a denúncia do racismo. Em 1955 viaja para a Europa, com o TPB, onde dá espetáculos de canto e dança. Em 1958 edita "Seis tempos de poesia"; em 1961, "Cantares ao meu povo" (com uma reunião de poemas anteriores). Solano Trindade faleceu no Rio de janeiro, em 19 de fevereiro de 1974. Sua obra, não! Continuará eternamente viva, como que escrita com brasas na pele escura de todo afrodescendente, mesmo que não queira, mesmo que não saiba...

Nenhum comentário: