Três respostas em face de Deus

Três respostas em face de Deus
Familles, je vous hais! foyers clos;
portes refermées; possessions jalouses du bonheur.
A. Gide

C'est l'ami ni ardent ni faible. L’ami.
Rimbaud

…ô Femme, monceau d’entrailles, pitié douce
Tu n'est jamais la soeur de charité, jamais!
Rimbaud


Sim, vós sois (eu deveria ajoelhar dizendo os vossos nomes!)
E sem vós quem se mataria no presságio de alguma madrugada?
À vossa mesa irei murchando para que o vosso vinho vá bebendo
De minha poesia farei música para que não mais vos firam os seus acentos dolorosos
Livres as mãos e serei Tântalo – mas o suplício da sede vós o vereis apenas nos meus olhos
Que adormeceram nas visões das auroras geladas onde o sol de sangue não caminha…

E vós!... (Oh, o fervor de dizer os vossos nomes angustiados!)
Deixai correr o vosso sangue eterno sobre as minhas lágrimas de ouro!
Vós sois o espírito, a alma, a inteligência das coisas criadas
E a vós eu não rirei – rir é atormentar a tragédia interior que ama o silêncio
Convosco e contra vós eu vagarei em todos os desertos
E a mesma águia se alimentará das nossas entranhas tormentosas.

E vós, serenos anjos... (eu deveria morrer dizendo os vossos nomesl)
Vós cujos pequenos seios se iluminavam misteriosamente à minha presença silenciosa!
Vossa lembrança é como a vida que não abandona o espírito no sono
Vós fostes para mim o grande encontro…

E vós também, ó árvores de desejo! Vós, a jetatura de Deus enlouquecido
Vós sereis o demônio em todas as idades.

Ausência VINÍCIOS DE MORAIS

Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Sampa

Sampa ( Caetano Veloso )Alguma coisa acontece no meu coraçãoQue só quando cruza a Ipiranga com a avenida São JoãoÉ que quando eu cheguei por aqui eu nada entendiDa dura poesia concreta de tuas esquinasDa deselegância discreta de tuas meninasAinda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa traduçãoAlguma coisa acontece no meu coraçãoQue só quando cruza a Ipiranga e a avenida São JoãoQuando eu te encarei frente a frente não vi o meu rostoChamei de mau gosto o que vi, de mau gosto o mau gostoÉ que Narciso acha feio o que não é espelhoE a mente apavora o que ainda não é mesmo velhoNada do que não era antes quando não somos mutantesE foste um difícil começo, afasta o que não conheçoE quem vem de outro sonho feliz de cidadeAprende depressa a chamar-te de realidadePorque és o avesso do avesso do avesso do avessoDo povo oprimido nas filas, nas vilas, favelasDa força da grana que ergue e destrói coisas belasDa feia fumaça que sobe apagando as estrelasEu vejo surgir teus poetas e campos e espaçosTuas oficinas de florestas, teus deuses da chuvaPanaméricas de áfricas utópicas, túmulo do sambaMais possível novo quilombo de ZumbiE os novos baianos passeiam na tua garoaE os novos baianos te podem curtir numa boa

mulher

Parabéns, Mulher! Mulher que sonha.Mulher que trabalha.Mulher que briga.Mulher mãe.Mulher filha.Mulher que manda e que ama.Mulher de erros e acertos,de palavra doce.São tantas qualidades para definir essacriatura abençoada por Deus que porvezes nos perdemos em palavras.Representa com sua doçura e determinaçãoum universo totalmente desconhecido e acada dia se revela ainda mais misterioso e apaixonante.Neste dia, dedicado exclusivamentea mulher, quero demonstrar o quantome orgulho de você!Não conheço uma pessoa sequer quenão tenha se rendido aos encantosde uma mulher.E muito menos que tenha conseguidopassá-la para trás.Hoje é o Dia Internacional da Mulher!E quero lhe dar os parabéns!Afinal, você é uma das mulheres mais inteligentes e determinadas que conheço!Parabéns pelo seu diahttp://parabéns,%20mulher!/

ACEITE-ME COMO SOU!

ACEITE-ME COMO SOU! Uma história real Esta é a história de um soldado que, finalmente voltava para casa, depois de ter lutado no Vietnã. Ele ligou para os pais em São Francisco: - Mamãe, Papai, estou voltando para casa, mas antes quero pedir um favor à vocês. Tenho um amigo que eu gostaria de levar junto comigo. -Claro, eles responderam. Nós adoraríamos conhecê-lo também! Há algo que vocês precisam saber antes, continuou o filho. Ele foi terrivelmente ferido em combate. Pisou numa mina e perdeu um braço e uma perna. Pior ainda é que ele não tem nenhum outro lugar para morar. Sinto muito em ouvir isso, filho! Talvez possamos ajudá-lo a encontrar algum lugar para morar! -Não mamãe, eu quero que ele possa morar na nossa casa! - Filho, disse o pai, você não sabe o que está pedindo? Você não tem noção da gravidade do problema? A mãe concordando com o marido reforçou: alguém com tanta dificuldade seria um fardo para nós. Temos nossas próprias vidas e não queremos uma coisa como essa interfira em nosso modo de viver. Acho que você poderia voltar para casa e esquecer esse rapaz. Ele encontrará uma maneira de viver por si mesmo! Nesse momento o filho bateu o telefone e nunca mais os pais ouviram uma palavra dele. Alguns dias depois, os pais receberam um telefonema da polícia, informando que o filho deles havia morrido ao cair de um prédio. A polícia porém acreditava em suicídio. Os pais, angustiados voaram para a cidade onde o filho se encontrava e foram levados para o necrotério para identificar o corpo. Eles o reconheceram e, para o seu terror e espanto, descobriram algo que desconheciam: “O FILHO DELES TINHA APENAS UM BRAÇO E UMA PERNA!” Os pais nessa história são como nós, achamos fácil amar aqueles que são perfeitos, bonitos, saudáveis, divertidos, mas não gostamos das pessoas que nos incomodam ou não nos fazem sentir confortáveis. Esta noite, antes de dormir, façamos uma prece a Deus, para que nos dê as forças que precisamos para aceitar, sem restrições, as pessoas como elas são, mesmo que diferentes de nós. Peçamos Deus para nos dar paciência. eus responderá: Paciência é um subproduto das tribulações; Ela não é dada, é aprendida. DEus nos dá bênçãos; Felicidade depende de nós. peçamos a Deus para nos livrar da dor. Sofrer nos leva para longe do mundo e nos aproxima de Deus AMAmos a Deus para nos ajudar a AMAR os outros, com Deus nos dirá: .... Ahhhh, finalmente vocês entenderam a idéia.. Se você ama a Deus, envie isto para seus amigos e conhecidos, Mesmo que não acredite, tenha certeza que isso irá lhe fazer muito bem. Que Dus te abençoe, "Para o mundo você pode ser uma pessoa, mas para uma pessoa você pode ser o mundo”

A bomba atômica(Vinicius de Moraes)

Dos céus descendo Meu Deus eu vejo De pára-quedas? Uma coisa branca Como uma forma De estatuária Talvez a forma Do homem primitivo A costela branca! Talvez um seio Despregado à lua Talvez o anjo Tutelar cadente Talvez a Vênus Nua, de clâmide Talvez a inversa Branca pirâmide Do pensamento Talvez o troço De uma coluna Da eternidade Apaixonado Não sei indago Dizem-me todos É A BOMBA ATÔMICA Vem-me uma angústia Quisera tanto Por um momento Tê-la em meus braços E coma ao vento Descendo nua Pelos espaços Descendo branca Branca e serena Como um espasmo Fria e corrupta De longo sêmen Da Via-Láctea Deusa impoluta O sexo abrupto Cubo de prata Mulher ao cubo Caindo aos súcubos Intemerata Carne tão rija De hormônios vivos Exacerbada Que o simples toque Pode rompê-la Em cada átomo Numa explosão Milhões de vezes Maior que a força Contida no ato Ou que a energia Que expulsa o feto Na hora do parto. II A bomba atômica é triste Coisa mais triste não há Quando cai, cai sem vontade Vem caindo devagar Tão devagar vem caindo Que dá tempo a um passarinho De pousar nela e voar . . . Coitada da bomba atômica Que não gosta de matar! Coitada da bomba atômica Que não gosta de matar Mas que ao matar mata tudo Animal e vegetal Que mata a vida da terra E mata a vida do ar Mas que também mata a guerra . . . Bomba atômica que aterra! Bomba atônita da paz! Pomba tonta, bomba atômica Tristeza, consolação Flor puríssima do urânio Desabrochada no chão Da cor pálida do hélium E odor de rádium fatal Lœlia mineral carnívora Radiosa rosa radical. Nunca mais oh bomba atômica Nunca em tempo algum, jamais Seja preciso que mates Onde houve morte demais: Fique apenas tua imagem Aterradora miragem Sobre as grandes catedrais: Guarda de uma nova era Arcanjo insigne da paz! III Bomba atômica, eu te amo! és pequenina E branca como a estrela vespertina E por branca eu te amo, e por donzela De dois milhões mais bélica e mais bela Que a donzela de Orleães; eu te amo, deusa Atroz, visão dos céus que me domina Da cabeleira loura de platina E das formas aerodivinais — Que és mulher, que és mulher e nada mais! Eu te amo, bomba atômica, que trazes Numa dança de fogo, envolta em gazes A desagregação tremenda que espedaça A matéria em energias materiais! Oh energia, eu te amo, igual à massa Pelo quadrado da velocidade Da luz! alta e violenta potestade Serena! Meu amor . . . desce do espaço Vem dormir, vem dormir, no meu regaço Para te proteger eu me encouraço De canções e de estrofes magistrais! Para te defender, levanto o braço Paro as radiações espaciais Uno-me aos líderes e aos bardos, uno-me Ao povo ao mar e ao céu brado o teu nome Para te defender, matéria dura Que és mais linda, mais límpida e mais pura Que a estrela matutina! Oh bomba atômica Que emoção não me dá ver-te suspensa Sobre a massa que vive e se condensa Sob a luz! Anjo meu, fora preciso Matar, com tua graça e teu sorriso Para vencer? Tua enégica poesia Fora preciso, oh deslembrada e fria Para a paz? Tua fragílima epiderme Em cromáticas brancas de cristais Rompendo? Oh átomo, oh neurônio, oh germe Da união que liberta da miséria! Oh vida palpitando na matéria Oh energia que és o que não eras Quando o primeiro átomo incriado Fecundou o silêncio das Esferas: Um olhar de perdão para o passado Uma anunciação de primaveras! Vinicius de Moraes

Citações William Shakespeare

— Devemos aceitar o que é impossível deixar de acontecer. — Até mesmo a bondade, se em demasia, morre do próprio excesso. — O cansaço ronca em cima de uma pedra, enquanto a indolência acha duro o melhor travesseiro. — Vazias as veias, nosso sangue se arrefece, indispostos ficamos desde cedo, incapazes de dar e de perdoar. Mas quando enchemos os canais e as calhas de nosso sangue com comida e vinho, fica a alma muito mais maleável do que durante esses jejuns de padre. — Ninguém poderá jamais aperfeiçoar-se, se não tiver o mundo como mestre. A experiência se adquire na prática. — Se o ano todo fosse de feriados, o lazer, como o trabalho, entediaria. — Ventre grande é sinal de espírito oco; quando a gordura é muita, o senso é pouco. — Que é o homem, se sua máxima ocupação e o bem maior não passam de comer e dormir? — Do jeito que o mundo anda, ser honesto é (igual) a ser escolhido entre dez mil. — Hóspede oferecido (...) só é bem-vindo quando se despede. — Um homem inteligente pode transformar-se num joão-bobo, quando não sabe valer-se de seus recursos naturais. — Quem não sabe mandar deve aprender a ser mandado. — A mulher que não sabe pôr a culpa no marido por suas próprias faltas, não deve amamentar o filho, na certeza de criar um palerma. — As coisas mais mesquinhas enchem de orgulho os indivíduos baixos. — Ninguém pode calcular a potência venenosa de uma palavra má num peito amante..

Fé, esperança e caridade

Eram três anjos - e uma só mulher QUANDO A INFÂNCIA corria alegre, à toa, Como a primeira flor que, na lagoa, Sobre o cristal das águas se revê, Em minha infância refletiu-se a tua... Beijei-te as mãos suaves, pequeninas, Tinhas um palpitar de asas divinas... Eras - o Anjo da Fé! ... Depois eu te revi... na fronte branca, Radiava entre pérolas mais franca, A altiva c'roa que a beleza trança!... Sob os passos da diva triunfante, Ardente, humilde, arremessei minh'alma, Por ti sonhei — triunfador — a palma, Ó — Anjo da Esperança!... — Hoje é o terceiro marco dessa história. Calcinado aos relâmpagos da glória, Descri do amor, zombei da eternidade!... Ai, não! - celeste e peregrina Déia, Por ti em rosas mudam-se os martírios! Há no teu seio a maciez dos lírios... Anjo da Caridade!... Castro Alves

Amar e ser amado

Amar e ser amado! Com que anelo Com quanto ardor este adorado sonho Acalentei em meu delírio ardente Por essas doces noites de desvelo! Ser amado por ti, o teu alento A bafejar-me a abrasadora frente! Em teus olhos mirar meu pensamento, Sentir em mim tu’alma, ter só vida P’ra tão puro e celeste sentimento: Ver nossas vidas quais dois mansos rios, Juntos, juntos perderem-se no oceano —, Beijar teus dedos em delírio insano Nossas almas unidas, nosso alento, Confundido também, amante — amado — Como um anjo feliz... que pensamento!?

A um coração

Ai! Pobre coração! Assim vazio E frio Sem guardar a lembrança de um amor! Nada em teus seio os dias hão deixado!... É fado? Nem relíquias de um sonho encantador? Não frio coração! É que na terra Ninguém te abriu... Nada teu seio encerra! O vácuo apenas queres tu conter! Não te faltam suspiros delirantes, nem lágrimas de afeto verdadeiro... É que nem mesmo — o oceano inteiro — Poderia te encher!... Castro Alves

POVO ( Por um 2009 mais antropofágico‏)

Povo, Mais uma vez, nos vemos envolvidos pelo clima de "final de ano" e nos sentimos meio que compelidos a refletir, dizer algo, fazer "balanços" e coisas afins. E quem me conhece sabe que gosto destes rituais "de passagem" e acredito que particularmente este, que celebra o "Ano Novo", merece ser lembrado e compartilhado com as pessoas que nos acompanham. Então, tomem este texto mais como "conversa de final de ano" do que qualquer outra coisa. Gosto do "ano novo" não, obviamente, pela comercialização desenfreada nem pelos sentimentalismos sentimentalóides que cercam muita gente nesta época do ano. Nem mesmo em função de umas tantas fantasias (e delírios), muitas vezes hipócritas, que contaminam retrospectivas do ano morimbundo e as perspectivas para o ano que nasce. Sinceramente, o que acho legal nesta história toda é o que ela guarda e diz sobre uma daquelas coisas que compõem a própria essência do que é "ser humano": nossa contraditória e apaixonada relação com o tempo. Afinal, é exatamente a passagem do tempo que celebramos com velas e fogos e, eventualmente, lamentamos com lágrimas. É o "tempo" que ritualizamos ao ponto de dar "poderes especiais" à passagem de um segundo, tentando transformá-lo em amuleto mágico para os 365 dias que virão pela frente. Como também é "tempo" que banalizamos e "perdemos" cotidianamente com bobagens e mazelas que, quando vistas em perspectiva, se mostram completamente vazias de sentido. Seja como for, foi pensando nisto que, ao rever 2008, me dei conta que uma das efemérides menos comentada do ano talvez fosse a mais adequada para falar sobre o "passar do tempo" e, que sabe, carregarmos algo deste turbulento ano para 2009: os 80 anos do "Manifesto Antropófago", de Mário de Andrade e Tarsila do Amaral. Falamos muito de um pouco lido Machado, celebramos uma sempre inconclusa abolição e até reescrevemos a História sobre a "segunda" ocupação do país. Mas, infelizmente, e não por acaso, faltaram celebrações e festas àquela que foi uma das grandes contribuições mais importante para a cultura e a vida deste país: a Antropofagia ou, em outras palavras, a sempre presente possibilidade de nos reinventarmos; a recusa à mesmice; o convite à renovação constante. Por isso, ao povo que me acompanha pelos muitos caminhos que cruzo durante o ano, acho que a melhor coisa que posso desejar é que, em 2009, SEJAMOS UM POUCO MAIS ANTROPOFÁGICOS. Particularmente em tempos neoliberais, marcados pela elevação do "presente", da "estabilidade" e do "indivíduo" à condição de semi-deuses, acho que uma boa forma para se começar o ano é lembrando o ensinamento Modernista: o novo só pode surgir da rearticulação com o velho; a renovação só pode brotar de dialéticas "disputas" com o "outro" e todo esse processo é tão contraditório e enigmático (e, por isso mesmo, belo) como os mistérios que se escondem por trás da máxima "oswaldiana": "Tupy or not tupy! That´s the question!". Afinal, ser "antropófago" também significa questionar quem somos, diante de nós e dos outros; significa desestruturar pré-conceitos, redimensionar limites, recriar possibilidades. Por isso, desejar a vocês um "2009 mais antropófago", para mim, significa desejar um ano cheio de constantes renovações; carregado de energias contra as consciências enlatadas e as idéias cadaverizadas e prenhe de criatividade e ousadia. E não nos esqueçamos que principalmente num mundo e num país como estes em que estamos mergulhados, não pode nos faltar alegria. Afinal, arrancar alegria de uma "geléia geral" como a que vivemos é mais do que uma "prova dos nove". É arma fundamental para seguir em frente. No mais, e sem querer ser redundante, fiquem com o antropofágico poema do Drummond e estejam certos em poder contar comigo no banquete que nos aguarda em 2009. Wilson HonórioRedeglutindo Oswald, 80 anos depois. =====================================Carlos Drummond de Andrade Receita de ano novo Para você ganhar belíssimo Ano Novocor do arco-íris, ou da cor da sua paz,Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido(mal vivido talvez ou sem sentido)para você ganhar um anonão apenas pintado de novo, remendado às carreiras,mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;novoaté no coração das coisas menos percebidas(a começar pelo seu interior)novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,mas com ele se come, se passeia,se ama, se compreende, se trabalha,você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,não precisa expedir nem receber mensagens(planta recebe mensagens?passa telegramas?) Não precisafazer lista de boas intençõespara arquivá-las na gaveta.Não precisa chorar arrependidopelas besteiras consumidasnem parvamente acreditarque por decreto de esperançaa partir de janeiro as coisas mudeme seja tudo claridade, recompensa,justiça entre os homens e as nações,liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,direitos respeitados, começandopelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novoque mereça este nome,você, meu caro, tem de merecê-lo,tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,mas tente, experimente, consciente.É dentro de você que o Ano Novocochila e espera desde sempre.

Crer

Então eu estou aqui E você também Me permita ser o seu espelho esta noite E cantar em mim o teu encanto Tua estranheza e teu espanto Como quem sabe no fundo Que não há distância neste mundo Pois somos uma só alma Me permita ser esta noite A voz que te canta e te encanta de si Que te faz sentir-se e parar Como quem volta pra casa e resolve se amar. Somos livres e não possuímos as pessoas Temos apenas o amor por elas... e nada mais E é preciso ter coragem para ser o que somos sustentar uma chama no corpo sem deixar a luz se apagar É preciso recomeçar no caminho que vai para dentro vencendo o medo imaginado assegurar-se no inesperado confiando no invisível desprezando o perecível na busca de si mesmo Ser o capitão da nau no mais terrível vendaval Na conquista de um novo mundo mergulhar bem fundo para encontrar nosso ser real E rir pois tudo é brincadeira Que cada drama é só nosso modo de ver A vida só está nos mostrando Aquilo que estamos criando Com nosso poder de crer Luiz Antonio A. Gaspareto Poesia extraída do disco Só você de Fábio Júnior

palmeira

A PALMEIRA COMO É LINDA e verdejante Esta palmeira gigante Que se eleva sobre o monte! Como seus galhos frondosos S'elevam tão majestosos Quase a tocar no horizonte! Ó palmeira, eu te saúdo, Ó tronco valente e mudo, Da natureza expressão! Aqui te venho ofertar Triste canto, que soltar Vai meu triste coração. Sim, bem triste, que pendida Tenho a fronte amortecida, Do pesar acabrunhada! Sofro os rigores da sorte, Das desgraças a mais forte Nesta vida amargurada! Como tu amas a terra Que tua raiz encerra, Com profunda discrição; Também amei da donzela Sua imagem meiga e bela, Que alentava o coração. Como ao brilho purpurino Do crepúsc'lo matutino Da manhã o doce albor; Também amei com loucura Ess'alma toda ternura Dei-lhe todo o meu amor! Amei!... mas negra traição Perverteu o coração Dessa imagem da candura! Sofri então dor cruel, Sorvi da desgraça o fel, Sorvi tragos d'amargura! Adeus, palmeira! ao cantor Guarda o segredo de amor; Sim, cala os segredos meus! Não reveles o meu canto Esconde em ti o meu pranto Adeus, ó palmeira!... adeus!. ! Álvares de Azevedo(1831-1852). Jovem poeta paulista, morreu de tuberculose aos 21 anos, leitor de Byron e Blake. Não teve sua obra reunida em livro, somente um conjunto em Lira dos Vinte Anos. Integrou a grupos de alunos boêmios da Faculdade de Direito de São Paulo - Sociedade Epicuréia. Machado aos 19 anos faz este poema em homenagem ao romantismo de Azevedo, incluindo Byron e Chatterton autores românticos que como Azevedo morreram na flor da juventude

o natal

"Na nossa sociedade faz frio. E o Natal é luz e calor! A humanidade enregela sem o Espírito que é fogo. Contra o frio do egoísmo, o calor do amor. Contra o frio da ganância, o calor da generosidade. Contra o frio da indiferença, o fogo da solidariedade. Contra o frio da solidão, o fogo da proximidade. Contra o frio do desencanto, o fogo do ideal."Vasco Pinto Magalhães ( Tudo aquilo que somos é um resultado daquilo que pensamos)